Sobre histórias que precisam ser contadas
Episódio "Literatura Submersa", sobre crise climática, pessoas e a relação delas com os livros, recebe prêmio de jornalismo
Era setembro do ano passado quando uma história interessante apareceu por aqui: um carro frigorífico, cheio de livros e documentos históricos, chegava à Universidade Federal de Santa Catarina. Aqueles materiais, que haviam sido congelados, passariam a ser restaurados em um processo extremamente complexo e delicado, conduzido pelo professor Cezar Karpinski. Eram livros, assunto sobre o qual eu e a Carol Passos falamos há três anos no Posfácio Podcast. Eram livros que tinham sido danificados depois das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul um ano atrás. A gente quis saber mais sobre essa história.
Quem me contou boa parte dela foi o bibliotecário Jean Teodomiro dos Santos, de Camaquã, que encontrou a biblioteca em que trabalha tomada pela água infiltrada pela chuva. Assim como ele, outras pessoas que dedicam suas vidas aos livros se viram assim: encontrando acervos e coleções particulares cobertos pela enchente.
Quem também nos ajudou a contar essa história foi a escritora Julia Dantas, que com seu olhar sensível narrou o que afetava milhares de pessoas, e também ela própria. (A gente falou sobre ela e sobre como apoiar o mercado editorial no RS em uma newsletter publicada aqui).
Eu nunca esqueço da Julia me dizendo que saiu de casa, deixando quase tudo pra trás, e em certo momento pensou "a essa altura, a água já chegou nos livros de não-ficção".
A Julia vive de livros. Eu chorei demais ouvindo. Aliás, ela já passou pelo Posfácio:
E nessa entrevista para o podcast da Gama, ela falou sobre crise climática:
Fiquei pensando como seria se aquilo que a Julia contou, sobre a água chegando aos liros, acontecesse comigo. Eu organizo meus livros por ordem alfabética, e os dos autores cujo sobrenome começa com M estão ali na parte mais baixa da estante. E se a água chegasse neles, nos Gabriel García Márquez, nos Fernando Morais? Quanto estrago a enchente já teria causado até chegar até ali e também tirar isso das pessoas?
Esse foi um cuidado que tivemos ao contar essa história, que se tornou o episódio especial narrativo "Literatura Submersa": colocar o foco no impacto da crise climática no meio editorial sem esquecer das pessoas, das vidas que precisavam ser salvas antes de qualquer outra coisa. Eu acho que conseguimos.
O episódio já tinha conquistado o terceiro lugar na categoria nacional do prêmio da Associação Riograndense Imprensa, e na última segunda-feira, dia 24, ficou em segundo lugar na categoria áudio do 4° Prêmio de Jornalismo ACI Ocesc.
Isso me enche de felicidade porque é um reconhecimento ao jornalismo cultural, independente, feito por mulheres, mas também fortalece minha certeza de que histórias como essas precisam ser contadas.
Para nós, essa conquista é gigante: foram mais de 200 trabalhos inscritos, de muita qualidade, como a premiação mostrou.
Essa reportagem só pode ser feita porque somos apoiadas mensalmente por pessoas que acreditam no nosso trabalho. A todos os nossos apoiadores, muito obrigada ❤️
Apoie o Posfácio!
São três anos fazendo jornalismo cultural e independente e isso não é tarefa fácil. Já são sete temporadas, uma série especial sobre Literatura Catarinense, e o episódio especial narrativo '“Literatura Submersa”. Precisamos de apoio pra esse projeto ficar de pé e cada vez melhor.
O Posfácio se mantém apenas da campanha de financiamento coletivo no apoia.se. Temos a meta de conseguir R$ 1,5 mil por mês pra viabilizar os episódios, as compras de livros que precisamos ler e também os custos operacionais, mas estamos bem distantes do valor necessário. Nem passa pela nossa cabeça parar, mas pra manter esse trabalho - sim, é trabalho! - a gente precisa de apoio.
Então fica aqui, mais uma vez, o nosso pedido: doando a partir de R$ 10 por mês, você apoia o jornalismo cultural, independente, feito por mulheres, e ainda concorre a livros todos os meses.
Se puder nos ajudar com qualquer outro valor, ou com uma doação única via Pix (51571965000175 - CNPJ), também tá valendo!
E, se não der pra doar, a gente entende, mas lembra que custa zero reais fazer o famoso boca a boca e falar da gente por aí, compartilhar os episódios, dar aquela engajada nas redes sociais. Podemos contar com você?
Obrigada por nos acompanhar até aqui!
Lembre de seguir o Posfácio nas redes sociais e nos tocadores, fazer aquela avaliação bacana, e interagir com a gente!
Bjos e até a próxima =)