Uma seleção de autoras para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
A data é de luta, e o que não falta é produção literária dessas mulheres que precisam ser lidas
Celebrado em 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi criado em 1992, ano do 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado em Santo Domingos, na República Dominicana. Além de propor a união entre mulheres, o evento visava também denunciar o racismo e machismo enfrentados por elas. Desse encontro nasceu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas, que junto à ONU lutou para o reconhecimento do 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.
Eu confesso que só descobri essa data, o encontro e a luta dessa rede depois de ler Lélia Gonzalez. Aliás, demorei demais pra ler essa e outras pensadoras feministas negras, que fizeram com que eu ampliasse minha visão não apenas sobre a condição de mulheres em todo o mundo, mas em relação ao próprio feminismo também. Hoje, o feminismo com o qual me identifico é aquele que luta pelo acesso a diretos de todas as mulheres, não apenas aquelas iguais a mim.
Nessa data, a gente acha importante falar de mulheres como Lélia, e também de outras pensadoras e autoras latino-americanas e caribenhas que, por meio de sua produção, tratam de temas que atravessam todas nós.
Quero começar indicando o livro “Por um feminismo afro-latino-americano”, organizado por Flavia Rios e Márcia Lima e publicado pela Zahar, que reúne um panorama amplo da obra de Lélia. São textos produzidos durante um período efervescente que compreende quase duas décadas de história – de 1979 a 1994 – e que marca os anseios democráticos do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe. O livro está disponível gratuitamente para baixar na biblioteca do TSE.
“É Lélia quem cria para mim essa identidade, essa terceira figura política, essa terceira identidade que compartilha das outras duas (ser mulher e ser negro), mas que tem um horizonte próprio de luta. Com Lélia Gonzalez, me defini politicamente para militar na questão da mulher negra”, disse Sueli Carneiro, filósofa, pedagoga, escritora e fundadora do Geledés.
Li recentemente e também recomendo demais “O pacto da branquitude”, da Cida Bento. Esse livro trata principalmente de como racismo opera nas relaçõies de trabalho. Cida Bento, eleita em 2015 pela The Economist uma das 50 pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade, denuncia e questiona a universalidade da branquitude e suas consequências nocivas para qualquer alteração substantiva na hierarquia das relações sociais.
Esse é um trecho que particularmente me chamou atenção:
Outra mulher que recomendo demais é a Rigoberta Menchú, indígena guatemalteca do grupo Quiché-Maia. Ela recebeu o Nobel da Paz de 1992 pela sua campanha pelos direitos humanos, especialmente a favor dos povos indígenas. É Embaixadora da Boa Vontade da Unesco.
Conheci a Rigoberta no curso de Letras e dela li “Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la conciencia” (“Me chamo Rigoberta Menchú e assim me nasceu a consciência”, em tradução livre). Esse livro, publicado em 1983, é o relato que Rigoberta fez quando estava exilada para a antropóloga venezuelana Elizabeth Burgos-Debray. O projeto Ciência Pelos Olhos Delas conta a história de Rigoberta.
No campo da ficção (pero no mucho), é fundamental a leitura das obras de Eliana Alves Cruz. Em seus romances, ela reúne ficção, história oral e “oficial” de maneira lírica, mas também crítica. Seu romance mais recente é “Solitária” - puro suco de Brasil. A gente teve a honra de conversar com a Eliana no Posfácio:
Essas são algumas indicações para essa data tão relevante. Sabemos que há muitas outras mulheres compondo essa luta. Tem autoras pra indicar? Comente aqui!
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Um beijo e leia mulheres latino-americanas e caribenhas!
Stefani