Uma mulher é uma comunidade inteira
No novo episódio do podcast Histórias Plurais, a gente apresenta uma liderança comunitária do bairro Monte Cristo, em Florianópolis
Eu não sou exatamente a pessoa mais sociável do mundo, mas o que sempre me atraiu no jornalismo foi conhecer gente. Não gente famosa (o que também é bem legal), mas gente comum, aquilo que acontece de extraordinário em pequenas ações do dia a dia. Gente que tá ali vivendo a vida e nem percebe que algo que faz é digno de ser contado. Por isso, logo no início da graduação, eu fui pelo caminho do jornalismo popular. Eu queria conhecer e contar histórias de pessoas que talvez nunca fossem aparecer em grandes veículos de comunicação, mas precisavam ser contadas. Não por serem aqueles exemplos pontuais de superação que as vezes a imprensa conta na tentativa de dizer “é só você querer e se esforçar que vai dar tudo certo”. Longe de mim fazer apologia à falácia de meritocracia. O que eu sempre acreditei é que não existe superação pessoal se ela não tiver um impacto coletivo. E é uma dessas situações em que eu acredito muito que conto no novo episódio do podcast Histórias Plurais:
Eu detesto, do fundo do meu coração, quando uma mulher que se empenha e se ferra muito é chamada de “guerreira”. Porque sempre me passa a ideia de que ela tá sendo reconhecida por lutar uma guerra solitária, e isso é muito errado. Quando eu conheci a Jaqueline de Sousa, que é perfilada nesse episódio, o que mais me chamou atenção foi ela dizendo que não se via como uma guerreira. Ela não fez uma crítica ao adjetivo em si, mas o que ela queria dizer é que só tava fazendo algo que acreditava que qualquer pessoa na situação dela deveria fazer. Ela era uma mulher super jovem e mãe solo que enfrentava a pobreza sozinha. Nenhuma pessoa devia ter que passar por isso. Essa situação fazia dela menos uma heroína e mais uma sobrevivente.
Antes da vida da Jaque começar a melhorar, ela piorou bastante. Foi despejada, depois acolhida na casa de uma amiga, e aos poucos foi recomeçando. Só que fez dessa batalha contra a vulnerabilidade social uma luta coletiva. E é por isso que eu admiro tanto essa mulher e quis contar essa história aqui.
Por sorte, o meu caminho e o da Jaque se cruzaram várias vezes. Conheci ela quando editava um desses jornais populares sete anos atrás, depois nos reencontramos na sociedade civil organizada, e de lá pra cá até carregamos uma geladeira juntas descendo quatro andares de escadas. Em todas as ocasiões, por mais lascadas que fossem, ela sempre me fez rir e ter esperança. Espero que ela faça isso com vocês também!
Conheça o bairro Monte Cristo, em Floripa (de verdade)
Tem algumas “verdades absolutas” que são difíceis de contornar. Sobre Floripa, por exemplo, tem um papo de que é uma cidade riquíssima, com altos índices de desenvolvimento humano, com a melhor qualidade de vida do país. Isso até pode ser verdade, mas não pra todo mundo que mora aqui. Floripa também tem mais de 60 áreas de interesse social, os chamados “bolsões de pobreza”, que são locais com pouca ou nenhuma infraestrutura pública, como escolas, creches, unidades de saúde, e onde a população vive com no máximo dois salários mínimos por residência. Se você quiser conhecer mais sobre essa realidade que quase ninguém vê (ou não quer ver), conheça o trabalho feito pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM).
Uma dessas áreas esquecidas pelo poder público e ignoradas pela própria população é o Complexo do Monte Cristo, na região continental de Florianópolis. É nesse bairro que a Jaque encontrou apoio pra recomeçar a vida e é também onde atua em uma organização da sociedade civil que faz a diferença: a Associação de Mulheres do Monte Cristo (AMMO).
A situação de descaso com o bairro é tão absurda que recentemente voltou a ocupar as manchetes dos jornais de Santa Catarina. Um reservatório da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) se rompeu durante uma madrugada do início de agosto. A água invadiu casas, comércios, carregou carros e destruiu ruas. E a Jaque, a AMMO e outras organizações do bairro estão, mais uma vez, na linha de frente da luta para que essas famílias que foram impactadas sejam resssarcidas adequadamente pelo governo do Estado, responsável pela Casan.
Se você quiser ajudar e conhecer mais esse trabalho, acesse o perfil da AMMO nas redes sociais.
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Stefani