O ódio criativo de Marcelo Labes
Escritor catarinense deve lançar em breve mais dois livros: "Dois pretos" e "Evangélica"
Muito se fala sobre a importância do ócio criativo - aquela ideia deliciosa que o capitalismo coloca na cabeça da gente de que até não fazer nada é importante pra garantir produtividade -, mas e o ódio criativo, por onde anda? Eu respondo: nas páginas dos romances de Marcelo Labes.
O escritor catarinense, autor dos grandes “Paraízo-Paraguay”, “Três porcos” e “deus não dirige o destino dos povos” tem na vingança uma grande fonte de, digamos assim, “inspiração”.
Ele falou sobre isso na roda de conversa “Como escutar o mar de palavras?”, que teve também a participação da escritora gaúcha Lilian Rocha, da uruguaia Inès Bortogaray, e foi mediada pelo querido Leandro Belinaso, no II Festival Literário da UFSC (a gente também esteve lá, espero em breve conseguir escrever sobre isso aqui!).
Leandro fez perguntas interessantes usando analogias com o rio e o mar de palavras, e elas fizeram com que os escritores precisassem falar muito sobre sua relação com o lugar de onde vieram e como isso aparece em sua escrita.
Labes é de Blumenau e a cidade está presente nos seus livros, de uma maneira ou de outra. Em “Paraízo-Paraguay”, aparece na história da imigração alemã (falando assim muito por cima). Em “deus não dirige”, são muitos outros os elementos políticos locais. Mas em “Três porcos”, mais que a cidade, o bairro, é a vingança o que emerge. E Labes não vai parar por aí.
“Eu odeio o lugar de onde eu vim e eu tendo destruir aquilo com as palavras”, disse, resignado, sabendo que não vai conseguir, mas que vai tentar, ele vai.
Seu próximo romance, “Evangélica”, que será lançado em 2025 pela Companhia das Letras, completa o combo da vingança. Ou não. Nele, o alvo será a memória do colégio interno em que o escritor morou, e sabe deus como vai aparecer na ficção. Pelo que Labes falou, era pra aparecer com ódio. Mas como reconhece, a terapia talvez esteja fazendo efeito demais, e talvez não tenha ficado tão belicoso assim. Não sei vocês, mas eu vou pagar pra ver.
O outro livro que tem na gaveta é um spin-off do premiadíssimo “Paraízo-Paraguay” - meu livro preferido do Labes, diga-se de passagem. O novo romance vai partir da história de um casal de escravizados que acompanha alemães que desembarcam em Itajaí até Blumenau. Eles acabam desaparecendo naquela história, mas vão retornar nessa, que recebeu o nome de “Dois pretos”. Labes disse, no Flusc, que essa foi a melhor coisa que já escreveu. Eu só espero que saia logo da gaveta.
Enquanto os novos romances não chegam, recomendo a newsletter do Labes. Toda a acidez de sua escrita está presente ali, e ele compartilha também alguns bastidores de seu processo criativo:
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