Ana Maria Machado: "O que faz uma criança ler é o exemplo"
Autora reconhecida principalmente por seus livros infantis esteve no FliPomerode na última sexta-feira. Nós também estivemos lá e contamos como foi!
Ana Maria Machado rejeita a hipótese de que seus livros infantis buscam ensinar algo às crianças. Se a obra passar uma mensagem interessante e útil, ok, mas de maneira alguma essa é sua preocupação primeira. O que ela faz é transformar em livros para crianças muitas das histórias que ouviu de sua avó, de sua mãe, de seus filhos e de outras crianças à sua volta. Foi isso que contou à plateia formada por antigos e novos leitores no Festival Literário de Pomerode (FliPomerode) na última sexta-feira, dia 11. E pra nós, eu e Carol, que estávamos ali, ouvindo aquela mulher tão importante para nossa formação como leitoras, foi um momento incrível e emocionante.
Tudo relacionado à Ana Maria me deixa encantada. Ela ocupa a cadeira n° 1 da Academia Brasileira de Letras, e foi a segunda mulher a presidir essa instituição, tão dominada por homens brancos. Foi essa mulher que escreveu um dos livros que eu mais gostava quando era criança, “Bisa Bia, Bisa Bel”, que eu lembro até onde ficava na biblioteca da escola. O que eu não sabia é que, além dos livros infantis, seus romances e outras obras também têm muito do que me agrada. A importância do feminismo e da educação estão muito presentes - intencionalmente ou não.
Porque como comecei dizendo, Ana Maria não parece querer “militar” por meio dos seus livros. Em “Menina bonita do laço de fita”, a protagonista é uma criança negra porque ela percebeu que, ao transpor para a literatura uma brincadeira de seus filhos, seria mais interessante assim. O livro, lançado nos anos 1980, foi por muito tempo o único livro infantil brasileiro com uma protagonista negra. “Nasceu de uma brincadeira com meus filhos. Não foi para educar, para ensinar nada. É que eu gosto de ver as coisas por um ângulo diferente”, ela resumiu.
E eu não me aguentei e tive que perguntar pra ela sobre essas histórias, e se tem alguma que ainda vem aí (e vem!):
O mesmo ocorre com seus “livros para adultos”, como “Um mapa todo seu” e “A audácia dessa mulher”. Mas ela explica: “O fato de criar mulheres modernas e audaciosas é porque eu sou assim, não é porque eu quis passar uma pauta feminista”.
“Se é um livro que afirma a mulher é porque eu me afirmo como mulher”.
E foram muitas as mulheres que contribuíram para que se tornasse a escritora que conhecemos. Desde a avó, com seus causos passados à família por meio da oralidade, até sua mãe, que cuidava das tarefas domésticas sempre com um livro na mão.
“Eu via minha mãe lendo e achava que a coisa mais importante do mundo era aquele livro para o qual ela estava dando tanta atenção”. É por isso que Ana Maria discorda de quem diz que as crianças e os adolescentes de hoje não se interessam pela literatura, seja pela qualidade dos livros ou por qualquer outra razão. Ela garante:
“O que faz uma criança ler é o exemplo”.
Todo esse papo com ela levou a gente direto para o passado e nossas primeiras referências. Nós falamos sobre esse assunto no primeiro episódio do Posfácio:
E como exemplo é tudo, eu pedi pra Ana Maria autografar uma edição de “Menina bonita do laço de fita” para minha sobrinha que ainda está na barriga da mãe. A dedicatória, obviamente, me fez chorar:
Na semana que vem, vamos contar sobre outra escritora maravilhosa que ouvimos no FliPomerode: Ana Maria Gonçalves!
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Stefani